Alô, galera. Há meros dias tomei conhecimento de uma pequena
série conhecida pelo nome de Julie e os Fantasmas. Se vocês não conhecem,
pensem por um momento. Façam presunções. Julie e os Fantasmas. Sei lá vocês,
mas só pelo nome já me parecia promissora. Mais informações: uma série tween
(público-alvo provavelmente o mesmo de Rebelde, As Visões de Raven, etc). Uma
série brasileira. Uma série envolvendo rock dos anos 80.
Parece genial? É porque é. |
Foi suficiente pra mim. Eu assisti todos os 26 episódios em
24 horas (e podia ter sido ainda muito mais rápido).
Julie e os Fantasmas tem suas óbvias limitações de série
tween. A atuação não é do mesmo nível de uma minissérie aclamada da HBO. O
roteiro é ocasionalmente raso, ocasionalmente bobo. Alguns erros de
lógica/ciência, algumas inconsistências, mas no fim das contas — quem liga? Julie e os Fantasmas
transcende todos os defeitos e merece mais do que teve.
Julie e os Fantasmas é tão importante. Vamos por partes.
1) A Julie
A nossa protagonista tem várias características clássicas
(quiçá clichê, se vocês querem ser chatos) de protagonista tween/YA. Ela é uma
Menina Normal, tem uma amiga também Menina Normal, não gosta da Menina Popular
Malvada, tá a fim do Menino Popular Gente Fina. Fórmulas básicas e tal. Mas a
Julie tem seus momentos chatos, mesquinhos, emburrados — e isso é muito bom. Assim
ela passa do ponto self-insert pra simplesmente uma personagem relacionável. A
paixão dela por música (até onde a gente sabe, ela aprendeu violão sozinha!) dá
personalidade, energia, motivação à personagem.
E ei, ela é indubitavelmente a principal, sem quem a banda
dos fantasmas não seria coisa alguma. Três meninos que dependem dela totalmente
pro sonho deles, e que nunca perdem a oportunidade de expressar o quão incrível
ela é (Daniel à parte enquanto faz brincadeiras, mas... todo mundo, mesmo na
narrativa, sabe que é fachada). Oi, estamos ouvindo direito? Sim, isso é o som
de representação boa. Meninas em todo o Brasil e América Latina (até Itália!)
olhando pra Julie como modelo de vida! Querendo aprender violão pra ser que nem
ela! Oh yeah!
2) Os Fantasmas
3) O Brasil
Ó Julie amada, idolatrada, salve, salve! |
O quão menos esnobe eu teria sido sobre "coisas
brasileiras são sempre mais chatas e mal feitas" se tivesse algo assim
passando na TV. O quão orgulhosa eu seria pela produção criativa na minha terra
mãe se essa série fosse só umazinha num mar de maravilhas nacionais. E, sabe,
eu ando me impressionando bastante com as produções nacionais ultimamente
(porque ando prestando mais atenção), mas o que sei é que não tem como ter um excesso de coisas à la Julie e os
Fantasmas. Eu quero mais. Eu quero tudo que tiverem pra me dar.
Agora, certo, série descolada, tudo bem, mas por que a história continuaria? Por que não dá
pra apreciar o que já tem e ser feliz assim? Tudo acaba um dia, né? Errado.
Eis:
1) A Narrativa
Tem tanta coisa que dá pra explorar ainda. A Julie é super
nova e os fantasmas tão na vida dela há relativamente pouco tempo. A audiência
pode ver tanto ainda de como os relacionamentos vão mudando, evoluindo,
progredindo (ahem, Juliel...?). A
Julie tem muito pra amadurecer e mesmo pensando numa maneira bem episódica,
Ensino Médio tem como dar muita historinha pra cada semana (dia? Não sei como
era a agenda de exibição). O que a Julie vai fazer no Vestibular, se é que ela faria? Ela se mudaria pra faculdade? Os fantasmas iriam atrás? O Nicolas
continuaria por aí? A Talita algum dia se redimiria? E o Pedrinho e a prima
do Patrick? E a Bia e o Valtinho? E os sentimentos que a Julie e do Daniel canonicamente têm
um pelo outro?
Tudo bem que uma série pode terminar com várias perguntas
não respondidas e até algumas novas sendo postas. Mas essa mal teve sua chance
pra brilhar, então as perguntas em vez de serem uma satisfação pós-sinfonia são
um silêncio esmagador. Toquem um bis pra gente, vai.
2) O Potencial
Dificilmente Julie e os Fantasmas vai ser Rebelde ou
Malhação (pelo menos do jeito que tá). Com o marketing medíocre, a série não tem
muita chance de virar um fenômeno gigantesco. Mas tá tudo certo, gente. Ainda
dá pra ser uma febrezinha. Já pela premissa tem CD a venda ao final de cada
temporada só com as músicas originais. Caderno, estojo, mochila, instrumentos musicais com a estampa
Julie e os Fantasmas venderiam tão bem se a série pegasse mais, nossa. Cada vídeo de episódio no YouTube tem várias dezenas de milhares de visualizações (o episódio final tem quase 200 mil). Cada
uma delas representa alguém com interesse na série, mas essa estatística ainda
é conservadora — tem tanta criança que não sabe mexer na Internet direito, tanta
gente de toda idade que amaria ver mas não faz a menor ideia que exista pra começo de história. Olha o poder de compra, marketeiros. Olha a base de fãs e toma
notas. Eu quero muito viver num mundo onde tem merchandise da Julie pelo Brasil
inteiro, sério, e eu não sou a única. Nada
vai segurar quem sabe aonde quer chegar, hein.
3) A Programação
Pra terminar, eu tenho que fazer as perguntas. Elas tão me
matando por dentro. Ok. Lá vai. Tem algo
melhor que Julie e os Fantasmas passando? Tem algo que supere essa
obra-prima, algo que precise tanto tomar o lugar na agenda da televisão
brasileira? Algo que prenda mais audiência, que crie mais burburinho pela
América Latina inteira mesmo com total descaso de propaganda em
alta escala? Admito que não sou expert em séries tweens atuais na Nickelodeon ou
Band, mas é difícil acreditar que a resposta a essas perguntas seja sim. Trinta
minutos da programação dedicados a Julie e os Fantasmas. Trinta. É só isso que
o povo quer. É só isso que o povo pede.
Sei que muitos e muitas de vocês não sabem nem do que eu tô
falando direito. Tudo bem. Se der vontade de ver tá disponível no Netflix ou YouTube, é super
rápida de assistir e sei que vocês tão de bobeira. E pra quem sabe, eu
compartilho a frustração. Só nos resta esperar que algum dia a justiça seja feita
e o mundo nos propicie uma segunda temporada desse magnum opus da televisão
nacional. Até lá, boa sorte e deixa a música te levar.
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